Reflexões sobre morfologia

 

 

Autor: Doutor Ing. Ramiro González -Criador de Pastores Alemães “De Ramdefels” – Espanha

 

Prólogo

A criação, eu francamente não sei se é uma arte ou uma ciência, porém estou certo, que é um trabalho de anos de determinação, de conhecimentos e experiência, de alegrias e dissabores, de lutas e dedicação, de ilusões e sonhos, etc, etc.

A criação do pastor alemão de alta qualidade preparado para grandes competições, não é uma tarefa fácil.

Na falada criação, intervém muitos fatores que podem jogar por terra todas nossas ilusões, somado que os problemas não terminam quando se seleciona a fêmea ou reprodutor, muitas vezes o trabalho não é fácil, pelo que eu diria que começam nossas ações e preocupações já que é desalentador ir à Alemanha realizar uma cobertura que resulte na fêmea ficar vazia, tempo e dinheiro perdido.

Mais tarde no dia do parto, vigiar quantos nascem e quantos morrem, já temos outro passo adiante.

Uma vez que a ninhada nasceu e à medida que vão crescendo continuam as preocupações, como diz o refrão "cachorros (filhotes) criados problemas dobrados", e se têm enfermidades, e se tem falta de vitaminas, e se não saem os pré-molares, e se é monórquido ou prognata, se anda corretamente, se possui angulações, garupa, etc. etc. e por ultimo quando já o criamos e treinado e nos agrada, já que gostamos de sua estrutura, temos que submetê-lo ao raios-X de Displasia e esperar que seja satisfatória.

Como podem compreender, são muitas coisa para deixar à sorte ou ao azar a obtenção de um animal decente.

Por isto vamos a comentar alguns aspectos sobre a MORFOLOGIA do Pastor Alemão, para tentar ou pelo menos procurar saber algo mais,   para o bem da raça e nossa própria satisfação.

"O conhecimento e o trabalho bem feito são os únicos que dão origem à melhora da raça”.

Introdução

Vamos tentar refletir um pouco sobre o Pastor Alemão sob um ponto de vista estritamente MORFOLÓGICO, (Morfologia: é a ciência que estuda as formas e as estruturas dos seres vivos) quer dizer, estudaremos somente suas dimensões, proporções, estrutura, angulações, etc. uma vez que outros conceitos, também muito importantes no Pastor Alemão, tais como o Temperamento, Cor, Pelagem, etc. serão discutidos em outra oportunidade.

Para tal, devemos refrescar a memória e recordar os conceitos básicos sobre a geometria métrica (a geometria mais antiga conhecida) estudada em nossos primeiros anos de escola.

Origens

Foi no ano de 1572 quando o inglês KEYS escreveu pela primeira vez na historia canina, uma relação de todos os cães conhecidos na Inglaterra subdividindo as raças de acordo com sua aplicação prática.

Não obstante, foi no princípio do século XIX o momento em que o Zoologista e Paleontologista francês,   Georges CUVIER, criador da anatomia comparada, classifica as raças caninas tendo em consideração sua MORFOLOGIA, classificação que foi‚ anterior à zoológica a qual serviu de base a todas as classificações posteriores.

Anos mais tarde o também francês Pierre MEGNIN em 1897, elabora a classificação científica que atualmente está em vigor e que ordena as raças caninas de acordo com suas características MORFOLOGICAS, fazendo especial consideração sobre a cabeça do cão.


 

Classificação científica

Cientificamente as raças caninas se classificam em quatro categorias:     

Independentemente desta classificação científica, as Raças Caninas se ordenam em dez grupos, de acordo com a Assembléia Geral da F.C.I. celebrada em Jerusalém em Junho de 1.987.

O Pastor Alemão pertence ao Primeiro Grupo (Cães de pastoreio). Sob o ponto de vista científico, O PASTOR ALEMÃO é um LUPÓIDE.

 

Classificação funcional

Ao lado da classificação MORFOLÓGICA, existem outras classificações que consideram a funcionalidade da raça, tais como:

 

TROTADORES, GALOPADORES e TIPO FORÇA:


  Trotadores: são cães de corpo retangular, garupa com angulação superior aos 25 graus e tórax profundo (pastores).

Galopadores: são cães quadrados, garupa grande muito inclinada, ombros levantados e antebraços compridos (galgos).

Tipo Força: cães com ossatura pesada, pescoço curto, tórax aberto, costelas em forma de barril (bull-dog).

O PASTOR ALEMÃO é um TROTADOR

Planos CRANIOFACIAIS (fig 6)

Uma das características fundamentais de todas as raças é a cabeça, pois bem, em função dos planos craniofaciais as raças se podem classificar em:

ORTOIDES, CELOIDES e CERTOIDES.

 

     

De acordo com o angulo formado pelos planos craniofaciais: paralelos, convergentes ou divergentes.

O PASTOR ALEMÃO é um  ORTOIDE já que tem os planos craniofaciais paralelos.

Outra das classificações a respeito da cabeça é o índice cefálico que não é nada mais do que a relação existente entre a largura da cabeça e o comprimento da mesma, e se classificam em:

DOLICOCEFALOS, MESOCEFALOS E BRAQUICEFALOS.

Em função de que a largura da cabeça seja menor, igual ou maior que a metade do comprimento da cabeça. O PASTOR ALEMÃO é um MESOCEFALO, quer dizer a largura da cabeça deve ser igual à metade do comprimento da mesma.


 Índice corporal e torácico

Existem algumas outras classificações que levam em conta outros parâmetros tais como o índice corporal que consiste em dividir o comprimento do tronco pelo perímetro do tórax.

Como também existe o índice torácico que se calcula dividindo a largura do tórax pela altura do mesmo.

De acordo com estes índices os cães se classificam em:

BRAQUIMORFOS: índice corporal < 0,7 - índice torácico > 0,9

MESOMORFOS: índice corporal 0,7/0,85 - índice torácico 0,6/0,9

DOLICOMORFOS índice corporal > 0,85 - índice torácico < 0,6

O PASTOR ALEMÃO é um MESOMORFO, pois seu índice corporal está entre 0,7 y 0,85 e seu índice torácico está entre 0,6 y 0,9.

 

Quadro Resumo do Pastor Alemão:

CIENTIFICA

LUPOIDE

FIG.1

FUNCIONAL

TROTADOR

FIG.5

PLANOS

ORTOIDE

FIG.6

IN. CEFALICO

MESOCEFALO

FIG.7

IN. CORPORAL

MESOMORFO

FIG.8

IN. TORACICO

MESOMORFO

FIG.8

 

 

Padrão

As diferentes divisões das Raças Caninas são altamente importantes já que cada uma delas agrupa indivíduos com características similares.

As particularidades definidas no padrão de uma raça é o modelo de protótipo de dita raça, as quais podem ser variáveis com o tempo, com a cultura ou com os costumes, em função de melhoras MORFOLOGICAS ou PSIQUICAS obtidas pelos diferentes acasalamentos, cientificamente estudados, com o intuito de alcançar o nível máximo dentro da dita raça.

De fato os standards das distintas Raças Caninas vêm se adaptando aos tempos modernos e incrementando suas definições a fim de enriquecer e melhorar a raça estudada.

O padrão do PASTOR ALEMÃO foi aprovado pela primeira vez em 1899, posteriormente aumentado e aperfeiçoado no congresso de Colônia de 1909 e nos de Wiesbaden de 1930 e 1961 e por ultimo reescrito pela W.U.S.V. em agosto de 1976.

Desde o começo, idealizado por Mayer e Von Stephanitz até nossos dias poucas variações ocorreram. Atualmente no standard do Pastor Alemão se estabelecem tanto características Físicas como Psíquicas (Temperamento e caráter).

Cão típico

Quando no relatório que o Juiz emite com o motivo de sua qualificação em uma exposição, aparece a expressão "cão típico" está se referindo simplesmente a que o cão que ele julgou, atende as qualidades e características próprias da raça de acordo com o padrão oficialmente reconhecido pela F.C.I. independentemente de seu próprio gosto.

Para definir um cão como "típico" se deve considerar, a correta proporção de todas as dimensões do cão, não se deve se fixar somente na altura isoladamente, uma vez que deve ser considerada em proporção com o comprimento e o restante das dimensões.

Deve ter uma clara expressão do sexo e deve transmitir ao publico uma sensação de potencia e capacidade de trabalho.

Conjunto morfológico

Não temos nenhuma dúvida se afirmamos que o mais importante de um cão deve ser seu conjunto, se falamos de beleza Morfológica!

Se partirmos do principio de que a beleza "é a harmonia no conjunto". Quando analisamos um cão se deve ver em seu conjunto tanto em "parado" como em movimento. Um cão é belo quando existe harmonia em todas suas partes, não obstante para que um cão no conjunto seja harmônico deve ter sua anatomia considerando os elementos que a compõem individualmente perfeitos e corretamente bem posicionados, já que se apenas um de seus membros não é correto ou não está bem posicionado, destoa o conjunto, igual a uma orquestra de músicos que se um deles toca por sua conta, o concerto desanda.

O PASTOR ALEMÃO é um conjunto composto de subconjuntos e estes por sua vez são formados por elementos mais simples, se qualquer deles não está de acordo com o resto dos demais elementos no final o conjunto total não será harmônico e conseqüentemente não teremos um cão de bela estampa.

Estatura

O PASTOR ALEMÃO dentro do mundo canino é considerado como um cão de altura de média.

O padrão da raça define que a altura da cernelha deve estar compreendida entre 60 e 65 centímetros para os machos e 55 a 60 para as fêmeas.

A medição da altura de um cão deve ser feita com um medidor especial e não com o clássico metro e uma régua, já que fazer desta forma pode induzir a grandes erros. Outra condição importante é a de ser realizado sobre um terreno plano e horizontal, por outra parte o cão deve estar relaxado e muito descansado, caso contrário, a medição pode não ser totalmente correta.

Devem ser realizadas no mínimo três medições para obter um valor confiável.

      O que se mede, é o esqueleto, desde a cernelha com o pelo abaixado, até o solo, com uma vertical que passe justo por detrás do cotovelo do cão.(fig 9)

Esta medição só proporciona um valor numérico útil de comparação, já que o mais importante é a aparência geral do cão, a qual deve transmitir ao público uma sensação de proporção, força e grande capacidade de trabalho, proporcionando definitivamente uma constituição harmônica.

O valor real da altura deve ser dado pelo Mestre de Seleção e anotado na Súmula de Seleção do cão, já que esta medição é a única oficial, registrada sem possibilidade de recurso.

Mais importante que a altura apenas é a proporção da altura em relação ao comprimento do tronco, que deve estar compreendida entre 110% e 117 % da altura da cernelha.

O PASTOR ALEMÃO é uma raça de corpo retangular com uma proporção harmônica.

Em todo momento o cão deve dar a impressão de que não lhe sobra nem lhe falta nada, já que isto ocorre quando todas as partes do corpo, ossatura, músculos, peso, volume corporal, posição do centro de gravidade, etc., etc. estão em concordância e equilíbrio e o todo encaixa em forma proporcional e posicionamento com respeito ao restante do corpo.

Porém quando notamos algo que não se encaixa e desgostamos, devemos ser capazes de conhecer e distinguir claramente, o que é que destoa, analisando e estudando o que o cão tem a maior ou a menor como defeito para tentar corrigir, se isto é possível por meio de exercícios, alimentação, etc.

Em resumo, pode-se considerar que julgar um cão somente pela altura é um grave erro, já que a altura é uma parte integrante do conjunto e o importante não é seu valor absoluto e sim a proporção com relação aos outros parâmetros, uma vez que, em todo momento o PASTOR ALEMÃO deve transmitir a mensagem de que está física e psiquicamente preparado para cumprir a função própria de sua raça.

Além da função própria de sua raça o macho deve proporcionar a sensação de um bom reprodutor e no que diz respeito às fêmeas devemos encontrar além de seu dimorfismo sexual, o convencimento de que serão capazes de reproduzir e criar uma grande ninhada de filhotes sãos, fortes e grandes e isto só se consegue geralmente com cadelas grandes, fortes com muito osso e grande proporção de volume.

 Cabeça

 

Como diz o cinófilo italiano Solaro "A cabeça define a raça". No PASTOR ALEMÃO esta expressão é perfeitamente adequada dado que a cabeça é uma das características mais importantes sob o ponto de vista de beleza. A cabeça no PASTOR ALEMÃO deve ser proporcional de acordo com as dimensões do corpo.

 

O comprimento da cabeça deve ser aproximadamente 45% da altura da cernelha, medida desde a parte exterior da trufa até a apófise occipital externa, por outro lado como já se falou anteriormente, o Pastor Alemão, é um cão MESOCEFALO, portanto, a largura da cabeça será igual à metade do comprimento da mesma (fig 10).

O comprimento do crânio será igual ao comprimento do focinho e conseqüentemente igual à metade do comprimento total da cabeça.

A linha superior do focinho deve ser reta (visto de perfil), não curvada (montonismo) e o arco zigomático lateral deve ser ligeiramente curvo (fig 11).

A linha superior do focinho deve ser paralela à linha superior do crânio (cabeça ortoide) (fig 6).

A depressão crânio frontal (stop) lateralmente deve ser pouco marcado.

Vista por cima, a cabeça apresenta uma forma de tronco de cone, que partindo das orelhas até a trufa vai estreitando, o comprimento e a largura do crânio devem ser iguais (fig 10).

Visto de frente, o arco zigomatico frontal deve ser muito leve e o sulco central pouco marcado (fig 11).

A altura da cabeça na zona do stop, perpendicular ao plano do focinho deve ser igual à largura da cabeça, para que esta tenha um volume proporcional (fig 10).

Cão expressivo

Quando o Juiz em sua súmula define um animal como "cão muito expressivo" ou simplesmente "expressivo" está se fixando no conjunto da estrutura da cabeça, já que um cão é expressivo quando deixa transparecer em sua cabeça um estado de animo puro e vivaz.

 

Basicamente um "cão expressivo" é o que por meio de sua “cara” transmite a todos os que o rodeiam seu espírito alegre, vivaz e simpático, caracterizando em seu “rosto” um estado de animo puro e força interna, dentro do conjunto geral da cabeça com uma perfeita harmonia de forma e cores.

Para que uma cabeça seja expressiva deve ser de forma triangular com os olhos amendoados bem posicionados e as orelhas de forma e implantação correta.

A cor da cabeça e concretamente da máscara é de vital importância, uma vez que cabeças com uma só cor ou cores pouco definidas dão a imagem de monótonas.

É de grande influencia a cor dos olhos, como parte integrante mais importante do “rosto”, já que olhos claros destroem a expressão da “cara”, a cor dos olhos, para que a “cara” do cão seja expressiva devem ser, mais escuros que as partes mais claras da cabeça.

A definição de "cão expressivo" é totalmente independente de outras definições próprias do cão e muitas vezes se têm cães muito típicos e harmoniosos, pouco expressivos e em outras é comum acontecer o contrário.

Orelhas

 

As orelhas são de forma triangular (triangulo isósceles) muito ligeiramente arredondadas nas pontas, de tamanho médio, proporcional ao tamanho da cabeça, posição ereta e ligeiramente convergentes acima da trufa.

A implantação deve ser alta por cima dos olhos (fig.14).

Os olhos

Os olhos de tamanho médio em forma de amêndoa, quer dizer, ligeiramente ovalados posicionados semilateralmente e implantação oblíqua (fig.15).

A cor dos olhos é desejável que sejam os mais escuros possíveis, porém, minimamente mais escuros que as partes mais claras da “cara”.

Pescoço

A posição do pescoço quando o cão está em “parado” deve ser de 45 graus com relação a horizontal e deve dar um sentido de continuidade, em outras palavras, deve chegar a cernelha por meio de uma curva de raio pronunciado e não formando um ângulo.

Pescoço alto pode ser devido a úmero muito vertical.

Em movimento o ângulo é menor, quando o cão caminha abaixa a cabeça e quando trota, baixa mais ainda; o ângulo normalmente de um cão em trote é de 15 graus ou um pouco menos, diríamos 10 que está entre 10 a 15 graus com relação à horizontal.

O pescoço tem comprimento médio, desde a apófise occipital externa da cabeça até a ponta superior da omoplata (cernelha) deve ser de aproximadamente 45% da altura da cernelha, para que a impressão geral não seja de um cão de pescoço curto.

O pescoço e a cabeça quando o cão trota se abaixam para oferecer menor resistência ao corpo e assim avançar com menor esforço, adotando uma postura aerodinâmica. A cabeça nunca deve ir mais baixa do que a cernelha, quanto mais velocidade no trote mais horizontal se põe o pescoço, nestas condições abaixa o centro de gravidade, aumenta estabilidade, diminui a área frontal, tomando uma forma mais afunilada, melhorando o avanço e diminuindo o esforço necessário ao movimento.

Nesta posição de trote, a cauda se situa como um prolongamento de seu corpo, formando uma curva, protegida pelo corpo do animal para que não ofereça resistência ao movimento (fig.17).

Membros e angulações anteriores

São destinados ao avanço do animal e devem estar em coordenação com os membros posteriores que dão a propulsão, para o bom funcionamento de ambos.

O cão na posição de “stay” deve ter as pernas retas tanto de perfil como de frente.

Nesta posição a escápula ou omoplata, osso que define o ombro do perro deve estar com una angulação de 45 graus com respeito à horizontal com tendência a menor angulo (fig.18).

Escápula e úmero compridos dão origem a cernelhas altas e maior amplitude de passada, para que o cão tenha una marcha sincronizada livre de movimentos verticais na cernelha, o úmero e a escápula deverão ser de igual comprimento.

O úmero deve formar um angulo de 53 graus, com relação à horizontal, medido sobre o eixo geométrico que une os centros de articulação.

O úmero deve formar com a escápula um ângulo de 98 graus, suas proporções devem ser equilibradas, úmeros grandes e inclinados aumentam a trajetória dos membros anteriores.

O úmero e a escápula formam a articulação escápulo-umeral (fig.19).

 

Tamanhos curtos de úmero, são motivo de alcances curtos.

Movimentos de subida e descida da cernelha quando o cão está em trote podem ser, independentemente de outros defeitos, devido a proporções inadequadas do comprimento úmero-escápula.

Um cão com cernelha muito alta, normalmente pode ser motivo de úmeros grandes escápulas grandes, angulações inadequadas.

A medição dos ângulos se realiza considerando os eixos geométricos que unem os centros das rotulas de articulação, porém o que acontece quando observamos as angulações de um cão é difícil de situar exatamente onde se encontra a articulação do úmero, uma vez que o que vemos, é a parte externa do úmero, quer dizer com os músculos, peitoral, bíceps, braquial, que são os que se encontram nesta zona, além da pele e do pelo, nestas condiciones o ângulo observado com relação à horizontal é de 45 graus.

Devemos de ter cuidado de não confundir o externo que se encontra no centro do peito com o úmero, na hora de avaliar as angulações dianteiras.

Antebraço

O antebraço é formado pelo rádio e cúbito e deve ser de 37 % da altura da cernelha. Não obstante, a altura dos cotovelos é de 50% da altura total do cão. Os cotovelos, articulação úmero e radio deve estar em linha com a pata.

Antebraços compridos dão cernelhas altas e grande cobertura de solo. 

A correta proporção do rádio-cúbito, úmero e escápula são altamente importantes para ganhar terreno no trote com o mínimo esforço.

Se os ângulos se respeitam, rádio, cúbito, úmero e escápula de bom comprimento, dão cernelhas altas e grandes trotadores com muito alcance de passadas, sempre que as angulações traseiras estão em consonância com as dianteiras.

Carpo e metacarpo

 

O carpo está muito ligado ao metacarpo e ao pé, já que todos eles fazem bem a função de amortecedor das caídas nos saltos.

Em movimento no trote suave a elegância no andar de um cão se vê claramente pelo movimento deste grupo, isto é, pela forma de movê-los.

Vistos de frente devem estar totalmente retos, se denomina "canhonismo" a tendência a meter os pés para dentro e se denomina "mancinismo" a tendência a desviá-los para fora (fig.20).

Pés

Os pés devem ser bem formados dada a importância que esta parte do corpo tem para o movimento. Por meio dos pés, o animal tem contato com o solo e é por onde tem que absorver todos os esforços que recebe quando está em movimento.

Os pés traseiros são diferentes dos pés dianteiros já que têm funções distintas uns dos outros

Os traseiros são o ponto de apoio onde se realiza a força contra o solo para dar impulso para frente, devem ser pés fortes com almofadas firmes e com certa rigidez de movimentos.

Não obstante, os dianteiros devem ser firmes para absorver as caídas e os golpes contra o solo, porém devem ser providos de uma certa flexibilidade, para poder avançar e serem recolhidos com rapidez para realizar o próximo passo.

Os pés devem ser redondos com unhas fortes curtas e negras, arqueados, de um tamanho adequado e proporcional ao tamanho do animal.

Muitas vezes por falta de alimentação adequada (vitaminas, minerais), exercício, ou por enfermidade nos encontramos com cães que apresentam pés denominados de "Gato", de "Lebre", de "Pato".

Pés de Gato são aqueles pés curtos, também podem ser curtos e largos, com nós muito salientes. Estes pés apresentam um excesso de carga específica sobre a planta do pé, dando origem a cansaço prematuro com deformação lateral e perda do ponto de apoio.

Pie de Lebre são os que apresentam um comprimento maior que o desejado e estreitos, os nós são normalmente planos. Nestas condições o movimento é incorreto, o impulso não se realiza com flexibilidade e a absorção da caída nos pés dianteiros ocorre bruscamente, tudo isto dá origem à perdas de energia e esgotamentos prematuros.

Pés de Pato são pés normais ou de qualquer outro tipo que por circunstâncias seja de alimentação ou de treinamento abrem muito os dedos (normalmente por andar em terrenos arenosos ou em pisos escorregadios). O cão que tenha este tipo de pé nunca poderá ser eficaz em seu movimento, pois o apoio dos pés o condiciona para o trote.

Em resumo é desejável um pé correto em tamanho que permita transmitir os esforços com a flexibilidade adequada.

Extremidades posteriores

As extremidades posteriores são encarregadas de dar o impulso para frente e as dianteiras são as que ganham terreno.

O impulso é transmitido pelo dorso (centro de impulsão), para a parte dianteira.

Os ângulos ótimos, para que a propulsão se transforme em movimento harmônico, quando o cão está trotando, são medidos estaticamente colocando o cão na posição de "parado" com o metatarso e tarso verticais.

Nestas condições a tíbia e o perônio devem formar um ângulo de 30 graus com respeito à horizontal e o fêmur forma um ângulo de 105 graus também com relação à horizontal.

Estes valores são definidos, pelo ângulo que formam os eixos geométricos que unem os centros das rótulas de articulação, e uma vez mais, não é fácil de posicioná-los, uma vez que o que se observa são as partes externas da perna com seus músculos, tíbia anterior, bicípite femoral, pele e pelagem, conseqüentemente o ângulo externo que forma a pata com o metatarso na posição de "parado" é paralela ao solo.

O ílio deve ter um ângulo de 27 graus, com referencia à horizontal, e em relação ao eixo geométrico que une a articulação coxofemoral com a articulação femoral tíbia,   forma um ângulo de 48 graus e esta por sua vez com a linha que une a articulação femoral-tíbia com a articulação tíbio-tarsiana o ângulo deve ser de 135 graus.

Visto por trás os membros devem ser retos, jarretes para dentro se denomina "vacunismo" e jarretes para fora se denomina "canholismo" (fig.21).

Os valores nominais destes ângulos considerados como ótimos pelo Doutor Garrieri (famoso cinófilo italiano que foi‚ e que estudou com profundidade este tema) e que na prática podem ser adotados com alguma tolerância pra mais ou para menos.

 Garupa

Para todos os criadores e amantes do Pastor Alemão (destinado à alta competição em exposições) a garupa é uma das partes mais importantes do conjunto, porém, deve estar em harmonia com o resto dos elementos que compõem o cão.

Não obstante vamos considerar para seu melhor estudo a garupa em separado devido à grande importância que este elemento tem na transmissão do movimento.

Para estudar bem a garupa e a função que deve cumprir temos que lembrar que o Pastor Alemão é um cão trotador e que, portanto sua estrutura é retangular, quer dizer, mais comprido que alto.

A garupa é formada, tal como a vemos e a julgamos, pela pélvis, musculatura: vasto externo, piramidal, pele e pelagem.

A base óssea da garupa é a Pélvis o ílio, desde o extremo da ala ilíaca até a tuberosidade ísquia e o sacro. (Vértebras sacras).

A avaliação da garupa se realiza sempre por meio das partes externas, quer dizer com carne, músculos e pele, é por isto que tem uma grande importância a correta e equilibrada alimentação assim como o exercício devidamente programado, durante todo o tempo que dura o crescimento da garupa,   para que a aparência externa do cão esteja de acordo com a sensação que desejamos transmitir.

Devemos lembrar que a garupa dos Pastores Alemães se desenvolve e se posiciona até os dois anos de idade do animal.

O ílio ao ser a base óssea da grupa é muito importante, seu ângulo, comprimento e posição, uma vez que o impulso pelo trem traseiro é transmitido por meio da garupa para o centro de impulsão do animal, a correta angulação da garupa é de vital importância para otimizar o esforço e evitar perdas de energia.

 

A garupa atua como uma alavanca de impulsão, é desejável uma garupa grande com a correta inclinação em relação ao dorso e perfeitamente conectada ao dorso por meio de uma curva contínua e não por retas que formem ângulos (fig 22).

De acordo com a  SV e os registros sobre o tema indicam que o ângulo ideal para a garupa é de 23 graus, com relação à horizontal, não obstante, outros autores opinam que o ângulo ideal deve ser de 27 a 30 grados. O comprimento se considera correto quando se encontra na faixa entre 17 e 20 centímetros, com um valor ótimo de 18 centímetros.

Se levarmos em consideração que nos cães, o impulso para avançar provém dos quartos traseiros e que se transmite por meio da garupa e dorso para os quartos dianteiros, que são os que avançam, ganham terreno e dirigem o cão tanto em linha reta como em curvas, ou ainda, mudanças de direção (como os carros com motor traseiro, onde a força motriz está nas rodas traseiras e a direção nas dianteiras) conseqüentemente ainda que se tenham boas angulações traseiras se as dianteiras não estão em concordância com as traseiras, parte do impulso traseiro se perde, originando cansaço prematuro do cão.

O mais importante, portanto, é a coordenação de movimento para que toda a potência gerada na parte traseira seja transmitida por meio da garupa e dorso à parte dianteira, para que isto ocorra, é necessário que as angulações traseiras estejam de acordo com as dianteiras e para isto, o ângulo da garupa deve estar em concordância com o ângulo que forma o úmero com a horizontal, nestas condições o movimento é ótimo, conseqüentemente quando se analisa um cão em "Parado" normalmente se define a garupa desvinculada do úmero, não obstante os “olhos do expert” já podem deduzir como vai se comportar o cão em movimento.

Uma vez mais se demonstra que o conjunto predomina sobre as partes, por mais perfeitas que estas nos pareçam, dando lugar à beleza no movimento que como havíamos definido é: “a harmonia do conjunto“. 

Cauda

A cauda deve ser comprida passando dos jarretes, bem coberta de pelos e bem inserida no tronco.  A linha superior do lombo (fig.22) deve ser contínua e sem quebras, a inserção da cauda no final da garupa deve oferecer à vista, uma linha contínua e não um aspecto de "rabo grudado ao corpo".

A base óssea da cauda são vértebras coxigeas com um total de 18 a 23 dependendo do animal e do prolongamento das vértebras sacras correspondentes à espinha dorsal (fig.19).

A inserção da cauda está muito atrelada à formação e posição da garupa, conseqüentemente não é de se estranhar que a dita inserção varie com o crescimento do filhote.

Dorso

O dorso é definido pela espinha dorsal, músculos, pele e pelagem e é a ponte de união entre as patas traseiras (elemento motriz) e as dianteiras, (elemento diretriz e de avanço) sendo a encarregada de transmitir o movimento para adiante.

Sua base óssea é a espinha dorsal, a qual, nos animais vertebrados é a base de sustentação de todo o esqueleto, de onde partem todos os demais ossos e é, assim mesmo o elemento de união da parte traseira com a dianteira como uma ponte que une os pilares de uma margem com os pilares da outra margem.  

A espinha dorsal completa de um cão é formada por várias seções sendo as vértebras cervicais num total de 7 e situadas no pescoço do animal. A partir da omoplata (cernelha) começam as vértebras torácicas (zona do tórax) com um total de 13 vértebras que terminam com a última costela, depois do tórax vem a zona lombar com 7 vértebras que se unem com as vértebras sacras (3), finalizada a zona do sacro e começam as vértebras coxigeas dando origem à cauda.

A linha dorsal ou línea superior de um Pastor Alemão parte desde a nuca passando pela omoplata (cernelha) até o final da garupa, formando um arco de círculo descendente (não é uma reta inclinada), quer dizer desde a cernelha a linha dorsal deve sempre descender com harmonia e continuidade sem interrupções (marcações), sem montículos, até o final da garupa (fig.22).

A porção de linha superior correspondente ao pescoço deve encaixar corretamente por meio de um arco de círculo com a curva correspondente ao dorso (fig.16).

É de grande importância que o cão tenha um dorso superior firme para que seja eficaz no movimento e para isto deve ter uma espinha dorsal firmemente sustentada por músculos: porção dorsal do trapézio, grande dorsal, glúteo superficial e piramidal.

 Epílogo

Como é comum dizer "bem está o que bem acaba" o que quer dizer, que se ao final de nosso trabalho de criador, cuidados e dissabores, conseguimos um bom exemplar, podemos  dar por bem empregados todos os nossos esforços.

Porém a experiência nos demonstra, que para alcançar este êxito, não podemos deixar à sorte ou ao azar que as coisas saiam bem por “casualidade”, devemos procurar cada dia saber mais e mais, se com estas Reflexões sobre Morfologia, contribuímos Mara o aumento do saber, ainda que seja apenas um pouco, já nos damos por satisfeitos.

Devemos evoluir, devagar, porém sem pausas rotineiras, em conhecimentos e experiência, sem dar um passo atrás, de tal forma que quando olhemos para trás se possa avaliar o progresso obtido e isto se consegue assistindo as Exposições Especializadas de Pastor Alemão e tentando posicionar nossos exemplares nos primeiros lugares da Exposição.

Como dizíamos no início:

"O conhecimento e o trabalho bem feito são os únicos que dão origem à melhora da raça”.